O Observatório de Epidemiologia Nutricional é um grupo de pesquisa vinculado ao Instituto de Nutrição Josué de Castro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Criado em 2010 por iniciativa do professor Gilberto Kac, o observatório conta hoje com uma equipe de mais de trinta pesquisadores. Com parcerias nacionais e internacionais firmadas com diversas universidades e instituições de prestígio científico, o grupo reúne participantes de todo o Brasil e de países como Colômbia, Uruguai, Chile, Inglaterra, Estados Unidos, Dinamarca e Canadá.

O primeiro projeto, realizado no Centro Municipal de Saúde Heitor Beltrão, no município do Rio de Janeiro, deu início a uma série de dez teses, nove dissertações e 50 artigos científicos. Atualmente, a produção científica do observatório é referência para diversas pesquisas em todo o mundo e aplicada em políticas públicas nacionais. Além de muitos convênios e vasta produção científica, o observatório reúne, ao longo de mais de dez anos de existência, prêmios, menções honrosas e dados essenciais para o conhecimento do estado nutricional e da saúde materno e infantil no Brasil.

O observatório também possibilita que jovens pesquisadores integrem a equipe com propostas de pesquisas associadas a projetos maiores, com a supervisão de alunos mais graduados e sob coordenação do professor Gilberto Kac durante todo o processo. Desta forma, todos os alunos envolvidos conseguem desenvolver suas potencialidades, participando ativamente desde a construção e desenvolvimento do projeto até a análise final dos dados. A criação de independência é a marca principal que Gilberto Kac imprime na formação de seus alunos, com oportunidade para os alunos avançarem até a formação de pós-doutoramento. Dessa forma, o professor vislumbrou caminhos para idealizar e criar o Observatório de Epidemiologia Nutricional.

A história do observatório se confunde com o desenvolvimento da pesquisa na área de epidemiologia nutricional brasileira. Antes da sua fundação, em 2010, alguns acontecimentos foram de extrema relevância para a formação do grupo de pesquisa. Em 2006, Gilberto Kac criou o Fórum Nacional de Programas de Pós-graduação em Nutrição e, em 2007, foram iniciadas as discussões sobre o sistema de avaliação e monitoramento do ganho de peso gestacional, o que mais tarde se transformou no projeto “Curvas brasileiras de ganho de peso gestacional”. No ano seguinte, Kac lançou, em parceria com Rosely Sichieri e Denise Petrucci Gigante, o livro “Epidemiologia Nutricional”. A publicação, que aborda por um viés contemporâneo e abrangente o olhar sobre a problemática nutricional brasileira, tornou-se ferramenta de trabalho para a comunidade científica. 

O ano de 2009 foi marcado por outro evento importante que antecedeu a criação do Observatório: o início do projeto "Saúde mental e estado nutricional na gestação e no pós-parto: estudo prospectivo com ensaio clínico randomizado aninhado". Para o início do projeto é formada uma rede de colaboração com pesquisadores nacionais. Ainda neste ano, foi realizado o primeiro contato com o projeto International Fetal and Newborn Growth Consortium for the 21st Century (Intergrowth-21st) para desenvolvimento de novas curvas de ganho de peso gestacional baseadas nos dados daquele estudo. Em 2010, é firmada a primeira parceria internacional com a Universidade de Oxford, na Inglaterra. Ainda no mesmo ano, o programa de doutorado do Instituto de Nutrição Josué de Castro foi criado.

A rede de colaboração com o projeto de saúde mental na gestação é ampliada com parcerias internacionais como o National Institutes of Health dos Estados Unidos (2011), e a Universidade de Bristol do Reino Unido (2012). Em 2013, a primeira tese proveniente do projeto de nutrição e saúde mental na gestação vence o Prêmio Capes de Tese na área de nutrição com a pesquisa "Ansiedade, Ômega-3, depressão e padrão alimentar na gestação". Em 2014, a rede de pesquisa do projeto na gestação foi ampliada com a Universidade da California em San Diego e a Universidade de British Columbia, no Canadá.

Em 2015, o primeiro trabalho do observatório com foco no pós-parto foi iniciado. O projeto “Compostos bioativos do leite humano e suas associações com o desenvolvimento infantil e a saúde materna” (Compostos do leite humano e saúde materna e infantil) proporcionou a coleta de dados de puérperas, com foco no aleitamento materno e desenvolvimento infantil. O projeto foi ampliado no ano seguinte por meio de financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O ano de 2016 também foi marcado pelo início do vínculo do Observatório com o Ministério da Saúde, a publicação do padrão de ganho de peso gestacional para mulheres eutróficas pelo Intergrowth-21st e o recebimento de mais um Prêmio Capes de Tese pela pesquisa "Padrões alimentares associados ao risco de depressão na gestação e no pós-parto".

Em 2017, o projeto Curvas brasileiras de ganho de peso gestacional recebe financiamento pela Pastoral da Criança e pelo CNPq. O projeto, inicialmente, buscava validar os padrões de ganho de peso gestacional do Intergrowth-21st para a população brasileira, e, posteriormente, passou a vislumbrar a criação de uma curva nacional de ganho de peso. No mesmo ano, o Projeto Mothers, Infants and Lactation Quality (MILQ) tem aprovação pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). O MILQ é um estudo multicêntrico internacional conduzido em quatro países que irá prover valores de referência para micronutrientes e outros componentes do leite materno. No Brasil, o professor Gilberto Kac é o coordenador do estudo. 

Em 2018, tem início o trabalho de campo do MILQ e o projeto Curvas foi contemplado com um financiamento da Fundação Bill e Melinda Gates, do CNPq e Ministério da Saúde, por meio da chamada Grand Challenges Exploration: Ciência de dados para melhorar a saúde materno-infantil no Brasil. A partir deste projeto, em 2019, o professor Gilberto Kac cria o Consórcio Brasileiro de Nutrição Materno-infantil (CONMAI), reunindo pesquisadores de todo o país. Em 2020, o projeto Curvas recebe um novo financiamento da Fundação Bill e Melinda Gates, do CNPq e Ministério da Saúde, por meio de um novo Grand Challenges Exploration. Em 2021, foi iniciado o trabalho do Early MILQ, que vai complementar os dados do projeto MILQ ao estudar o leite humano, com foco no primeiro mês de lactação. Neste mesmo ano, o professor Kac inicia parceria com a Universidade de Harvard, em projeto voltado a avaliar o ganho de peso gestacional em países de baixa e média renda. O Observatório é responsável por criar uma curva de ganho de peso internacional, no âmbito deste projeto.

Outro projeto de relevância nacional do Observatório foi o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI-2019). Encomendado pelo Ministério da Saúde em 2017, o estudo avaliou práticas de alimentação, aleitamento materno, estado nutricional antropométrico e deficiência de micronutrientes em crianças brasileiras menores de cinco anos. Ao todo, cerca de 15 mil domicílios em 123 municípios de todos os estados e DF foram pesquisados, de março de 2019 a março de 2020, por 352 equipes de coletas de dados. A pesquisa inédita envolveu 60 pesquisadores de 22 instituições acadêmicas de todas as regiões do país.